sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O olheiro da prancheta


Depois de dois vice-campeonatos, o Barras enfim foi campeão piauiense em 2008. Mas naquele ano ocorreu um fato pitoresco no time da Terra dos Governadores. O técnico Flávio Araújo (foto) e o preparador físico Eduardo Pereira comandavam o treino de apronto do Bafo, numa sexta-feira à tarde, visando à final contra o Picos. O time na mão, a torcida empolgada e a confiança reforçada. Mas uma figura estranha causou desconfiança na comissão técnica. Havia, na arquibancada, um homem com uma prancheta na mão que rabiscava mais que o Joel Santana. Experiente, Flávio Araújo prestava atenção no desempenho de seus jogadores e na mão frenética do anotador. E com isso o treinador foi se chegando para a beirada do campo, como quem não quisesse nada, na direção do intruso. Professor Eduardo entendeu o gesto do treinador e também se aproximou, cercando o Lourenço. Outros da comissão técnica e da diretoria fecharam o cerco. Todos desconfiados de que o prancheteiro listava as jogadas do time barrense. Eis que veio a abordagem. Todos falaram quase juntos: “Ô rapaz, o que você anota aí? Veio entregar nosso time para Picos? Dentro de nossa casa? Não tem medo de morrer?”. O rabiscador, amarelo como uma bicicleta dos Correios vendo aquele monte de homens, gaguejando, tremendo, levantou as mãos, soltou o bloco de anotação e gritou: “Calma, gente. Eu não sou olheiro. Sou representante comercial. Estou aqui só anotando os pedidos de venda que fiz hoje pela manhã no mercado. Podem olhar aqui”. E esparramou no chão um monte de requerimentos de caixas de Novalgina, Fontol, Dipirona, Biotônico Fontoura, Tintura Sobral e Cachaça Alemanha. Nunca mais foi a um estádio de futebol na vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Cara só você e seu imenso vocabulário de jornalista, professor e advogado pra me fazer lembrar de Fontol e Novalgina. Isso me lembra muito minha infância e minhas já falecida avó. Obrigada!
Hildeny Medeiros