sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O Jânio do Delta


A hilária política piauiense não poderia terminar o ano sem outra cena: o deputado Deusimar Brito, o Tererê, carregando, a tiracolo, um feixe de vassouras por entre as bancadas da Assembléia Legislativa do Piauí. O fato ocorreu na segunda-feira (14). Tererê pretendia subir à tribuna com a penca de vassouras, e só não o fez porque o presidente da Casa, Themístocles Filho, aconselhou o parnaibano a deixar de ser ridículo. A intenção do parlamentar peessedebista era dar uma de Jânio Quadros, mas, ao contrário do ex-presidente do Brasil, Tererê não queria varrer sujeiras, mas as mentiras que ele diz que o governo conta quanto à construção de estradas no Piauí. Tererê é um político em extinção. Sua maior marca é protagonizar o risível. É dele, por exemplo, a pérola: “Isto aqui está virando um pavio de pólvora”, quando, na verdade, queria se referir à expressão popular “barril de pólvora”, que traduz situações críticas, delicadas. Não se espante se as urnas avalizarem e prorrogarem as peripécias de Tererê, nas próximas eleições. Pelos que posam de sérios descambarem para a galhofa pode ser que os galhofeiros sejam levados a sério pelo respeitável público.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Calado, e Ainda Errado


Ser politicamente correto virou mais que uma obrigação: virou charme. Intelectuais, políticos e até conquistadores baratos vêm usando de tiradas ambientais, raciais, preservacionistas para engabelar suas vítimas. E vem colando. Outro dia vi um bebum, no Chamegão do Forró, querendo impressionar uma sirigaita dizendo que só come alface. E orgânico. O falatório é tanto que vira uma espécie de dogma. E a mídia dá a sua colaboração para institucionalizar a nova ditadura comportamental. São novelas, personagens, produtos, atitudes que têm a ver com o novo mote. E ai de quem sair da linha. Ontem mesmo fiquei numa sinuca de bico. Meu assessorado Fábio Novo, sem a menor maldade muito menos preconceito – quem o conhece sabe que ele rechaça toda espécie deles – disse, na imprensa, que votar em Heráclito Fortes era voltar a um passado negro. Pronto. O céu desabou sobre nossas cabeças. Alguém que defende direitos humanos, mesmo sem eles serem agredidos, ligou, enfurecido, pra mim: “Olhe, diga a seu deputado que não se usa mais essa expressão!”. Eu retruquei: “Mas, querida, ele não quis macular ninguém. É um eminente defensor dos desvalidos, dos perseguidos, das minorias...”. E lá vem a voz de trovão, de novo: “Minorias? Olha, não se usa esse termo também, viu? É politicamente incorreto, é preconceituoso, é...”. Desliguei. Sei lá o que minha não-intenção diria da próxima.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Agora Eu Passo


A Câmara dos Deputados aprovou, na última quarta-feira (9), o Projeto de Lei 4118/08 que proíbe as organizadoras de concurso público de exigir conteúdos além dos necessários para o cargo oferecido. Tal informação deu-me uma leve impressão de “agora vai”. É que dentre a penca de projetos que tenho está o de ser funcionário público. O maior é o de levar a vida escrevendo. Mas o cara só faz isso se ganhar bem e trabalhar pouco, coisa que só acontece com quem é concursado. Entretanto, a exigência do Ó do Borogodó em tais pleitos sempre me afugentou. E isso não é de hoje. Já no colegial eu tinha a certeza absoluta de que pro meu estilo de vida jamais precisaria aprender a Lei de Lavoisier ou destrinchar uma equação química. Ainda não senti falta de tais conteúdos. O mesmo eu andava dizendo do que se pede em concurso. Os caras inventam uma teoria todo dia. O serviço público não melhora, mas os cursinhos preparatórios se atopetam de gente tentando aprender o sexo dos anjos. A notícia da aprovação do projeto veio justamente quando eu já começava a sacar a Teoria Jurídica das Instruções da Avestruz, cujo segundo nome é Teoria da Cegueira Deliberada. Ela explica situações em que o agente público finge que não vê produtos de crimes sob sua barba. Como uma avestruz, o funcionário enterra a cabeça. Faz sentido. Mas só isso.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Fome de Bola


A imprensa do Piauí (claro, há quem escape) potencializa os sintomas de quem sofre de tédio. Meu médico já me proibiu. Mas eu insisto. Hoje, fui premiado pela minha perseverança. Quando já ia me contentando com qualquer coisa, do tipo: ver mais um capítulo do PMDB ensaiando um novo adultério político, eis que vejo o blog Na Esportiva, do amigo Fábio Lima. E pensei: a gente tem jeito sim. Ver o Cabeça de volta às letras esportivas é mais que gratificante. Ele, que ama o gênero, foi mais um desgarrado pela pobreza piauiense neste setor. E digo: demorou a ir-se. Eu fui na primeira vez que vi um colega radialista implorar um sanduíche ao Ronaldo Buccar, ex-goleiro e ex-presidente do Esporte Clube Flamengo. Ronaldo tentava driblá-lo pelos corredores do Albertão, mas o famélico não desistia. Implorava por um naco de pão. Aquilo me deu náusea. Lembrei de Antônio Carlos Magalhães, que disse certa vez, sobre jornalistas: o maior erro é oferecer dinheiro a quem quer informação e oferecer informação a quem quer dinheiro. Aqui, pra nós, - eu pensei - oferecendo comida tudo se resolve.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Turismo de Roça Brocada


O mundo se reúne na Dinamarca para discutir a questão climática. Muitos figurões participam da Cúpula do Clima de Copenhague. Calcula-se que, ironicamente, 41 toneladas de CO2 serão produzidas na capital dinamarquesa pelos 120 jatos e 1.200 limusines que transportarão alguns ilustres convidados. A tônica do evento é achar uma solução para os efeitos colaterais originados da disputa entre ganância humana X meio-ambiente. A desconfiança sobre o que sai na mídia me tornou um cético. Se a imprensa escolhe um tema como bombardeio da vez minha primeira tendência é não acreditar. Ainda hoje acho, por exemplo, que aquele desembarque americano na Lua foi filmado num estúdio de Hollywood. E quando vi, na TV, geleiras desmoronando sobre ursos que corriam apavorados, minha impressão foi a mesma: é ficção. Mas, algo deve estar mesmo acontecendo ao clima. O calor de Teresina passou de cartão postal para questão de Estado. Parte de Cocal sumiu do mapa, no início deste ano, depois de um tsunami. E as margens de nossas BRs estão sendo torradas para serem transformadas em roças, às barbas das autoridades. Logo, sair da capital rumo ao interior não é mais contemplar a paisagem verdejante das matas marginais. É, isto sim, atravessar desertos. Se os astros de Compenhague não encontrarem uma saída rápida e eficiente para esse caos, a única coisa de verde que veremos em nossas viagens serão as placas do Dnit dando a distância dos municípios.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Nem Papai Noel Escapa


Quando eu trabalhava em jornal, meu pai não queria que eu fizesse matérias de denúncias. Temia que eu fosse emboscado na saída do jornal O DIA, antes de pegar o Mocambinho via Santa Sofia, que me levaria ao Marquês, onde ficava minha humilde laje. Mas o medo de meu pai foi em vão. No jornalismo do Piauí não há quase denúncias. Está mais para armazém de secos e molhados. A maior pressão que sofri foi de um empreiteiro cujo trator esmagou as pernas de um guri, sem a menor indenização. Ele disse que me pegaria se eu publicasse a reportagem. Mas como ele era de Piripiri e estava sempre de sunga, embriagado, no Caldeirão, eu até paguei pra ver. Não vi. Temendo por um passamento de meu pai, mudei para a advocacia. E lá vem ele dizendo pra eu não advogar no Criminal. Seria muito perigoso. E agora? Qual trabalho seria lucrativo, digno, entusiasta e sem nenhum perigo? Até ontem só me vinha uma resposta: o de Papai Noel. Clientes: criancinhas. Função: dar sorrisos amarelos. Jornada de trabalho: uma semana por ano. Mas eis que surge uma nova categoria: os duendes. Eles são muito lembrados na época no Natal e, depois que Xuxa jurou ter visto um, ninguém mais duvidou deles. Na última terça-feira, deu-se, nos EUA, o que nós aqui chamamos de concorrência desleal. Um duende se misturou a crianças numa fila de um shopping e, quando sentou no colo do Papai Noel, em vez de pedir presente, deu-lhe um. De grego: uma caixa cheia de bananas de dinamite. A segurança foi acionada e o duende, preso. Era a desculpa que me faltava para eu dar ao meu pai: não há profissão sem riscos.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Amar é...


Robson Costa avisou: não há palavras para explicar a paternidade. Foi a melhor expressão de sentimento que já me repassaram. Se alguém tivesse me dito que ser pai seria como passar no vestibular, eu limitaria meu pensamento. Se outros dissessem que seria como casar, a imaginação faria escalas e não viajaria absoluta. Como palavras não trariam uma comparação fiel, segundo a Teoria Robsoniana, eu apenas abstraí-me. Mas digo: mesmo exagerado como sempre fui não cheguei perto de mensurar o que de fato acontece com a paternidade. O meu filho Raul faz hoje dois anos. Não falarei de sua progressão de aprendizagem ao longo desses dias. Os meninos de hoje parecem já nascer sabendo de tudo um pouco. Dissertarei, na verdade, sobre o que eu aprendi com a vinda do guri. Ser feliz com a felicidade de outrem. Saciar-me com a satisfação de outra pessoinha. Anular-se por amor, transformando essa nulidade em número inteiro, real, positivo. Depois do Raul, ir pra balada não tem a mesma graça do que niná-lo ao som dos hits do Patati, Patatá. Assistir ao futebol na TV não é mais emocionante do que ver as invenções do Mister Maker ou as travessuras do Backyardigans. E ir para o shopping não significa renovar o guarda-roupa ou tomar um chopp para distrair. Mas, sim, horas e horas no pula-pula, vendo o menino pinotar igual uma carrapeta, numa cama elástica. Por falar nisso, queria pedir a seu João Claudino para colocar um pula-pula no Teresina Shopping. Do outro lado da ponte é um calor danado.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A Oração da Propina


A vida de Mão Santa não é fácil. Depois de derrubar oligarcas no Piauí, ser cassado por comprar votos, ir para a geladeira do PMDB e decorar salmos e episódios bíblicos para usar em seus mais de mil discursos populistas, o senador piauiense agora terá de explicar o inexplicável. É que um deputado do seu novo partido, o PSC, Rubens César Brunelli, foi flagrado recebendo propina no mensalinho do Distrito Federal. Mais que isso: evocou o santo nome de Deus para agradecer o dinheiro sujo recebido e exaltar a atitude contestável de seu corruptor, o piauiense Durval Barbosa. O episódio já ficou conhecido como A Oração da Propina. Nela, Brunelli agradece a “graça” alcançada: “Somos gratos pela vida do Durval, por ter sido instrumento de bênção para nossas vidas, para nossa cidade”. Faz uma mea-culpa: "Sabemos que somos falhos, somos imperfeitos, mas o seu (de Deus) sangue nos purifica". E arrisca um último pedido que, indiretamente, lhe garantiria mais glórias do tipo: “queria pedir cobertura contra as investidas de homens malignos contra a vida de Durval”. Mão Santa disse que Deus pode até perdoar tais fatos, mas ele, não. “Brunelli num sabe que o oitavo mandamento é não roubar?”, indagou o parnaibano, em entrevista ao Correio Braziliense. Eu já dou minha colaboração: acho que sabe, senador. O homem demonstra um certo entrosamento com o Criador. Tanto que o site do corrupto orador abre com a seguinte frase: Nós podemos porque acreditamos em Deus! Brunelli talvez tenha levado a sério demais esse poder ou essa crença.