sábado, 7 de novembro de 2009

No princípio, não era um verbo

Para o meu desapontamento, alguns irmãos que prestigiam este espaço ignoraram o nome “Ataiando”. Ataiar é uma expressão eminentemente nordestina. Eu sou como Luiz Gonzaga. Se me perguntassem 10 mil vezes sobre quem eu queria ser na próxima encarnação, a resposta era batata: o mesmo Mundico, do mesmo Piripiri, do mesmo Piauí, do mesmo Nordeste, do mesmo Brasil, da mesma mãe, do mesmo pai, do mesmo jeito: um ataiador de sonhos. Ataiar é cercar, parar, prender, conter, dominar. A gente vai ataiando uns amigos, uns amores, umas conquistas, uns troços, uns bregueços, umas besteiras. Quando dá fé, já contabiliza uma mancheia de coisas. Ataiamos também o que não é bom, tangendo as agruras, as decepções, os desapontamentos, como quem separa a água do barro em poço cacimbão. Somos também ataiados. Pela mão de Deus, por exemplo. Numa artimanha que os homens ingratos chamam de destino, ignorando os créditos do Criador. Somos ataiados por bons amigos, que nos puxam pelo cangote em direção ao crescimento. E até pelos inimigos, cuja água na presa nos amedronta e nos impulsiona para longe dela. O certo é que vence na vida quem melhor ataia. Quem melhor ataia a fome, a orfandade, as doenças, a pobreza, a violência, o desrespeito, a morte. Porque se não se ataiar, ou seja, se se desesperar, aí já era. É preciso descobrir também as veredas tranqüilas, as veredas do Bem. Dentro delas, ataiando com perseverança, se chega. E bem!

Um comentário:

Záira Amorim disse...

Adorei o texto! bem piauiês!E eu sabia o que é ataiar!!=)