sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Nem Papai Noel Escapa


Quando eu trabalhava em jornal, meu pai não queria que eu fizesse matérias de denúncias. Temia que eu fosse emboscado na saída do jornal O DIA, antes de pegar o Mocambinho via Santa Sofia, que me levaria ao Marquês, onde ficava minha humilde laje. Mas o medo de meu pai foi em vão. No jornalismo do Piauí não há quase denúncias. Está mais para armazém de secos e molhados. A maior pressão que sofri foi de um empreiteiro cujo trator esmagou as pernas de um guri, sem a menor indenização. Ele disse que me pegaria se eu publicasse a reportagem. Mas como ele era de Piripiri e estava sempre de sunga, embriagado, no Caldeirão, eu até paguei pra ver. Não vi. Temendo por um passamento de meu pai, mudei para a advocacia. E lá vem ele dizendo pra eu não advogar no Criminal. Seria muito perigoso. E agora? Qual trabalho seria lucrativo, digno, entusiasta e sem nenhum perigo? Até ontem só me vinha uma resposta: o de Papai Noel. Clientes: criancinhas. Função: dar sorrisos amarelos. Jornada de trabalho: uma semana por ano. Mas eis que surge uma nova categoria: os duendes. Eles são muito lembrados na época no Natal e, depois que Xuxa jurou ter visto um, ninguém mais duvidou deles. Na última terça-feira, deu-se, nos EUA, o que nós aqui chamamos de concorrência desleal. Um duende se misturou a crianças numa fila de um shopping e, quando sentou no colo do Papai Noel, em vez de pedir presente, deu-lhe um. De grego: uma caixa cheia de bananas de dinamite. A segurança foi acionada e o duende, preso. Era a desculpa que me faltava para eu dar ao meu pai: não há profissão sem riscos.

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