
Quando eu trabalhava em jornal, meu pai não queria que eu fizesse matérias de denúncias. Temia que eu fosse emboscado na saída do jornal O DIA, antes de pegar o Mocambinho via Santa Sofia, que me levaria ao Marquês, onde ficava minha humilde laje. Mas o medo de meu pai foi em vão. No jornalismo do Piauí não há quase denúncias. Está mais para armazém de secos e molhados. A maior pressão que sofri foi de um empreiteiro cujo trator esmagou as pernas de um guri, sem a menor indenização. Ele disse que me pegaria se eu publicasse a reportagem. Mas como ele era de Piripiri e estava sempre de sunga, embriagado, no Caldeirão, eu até paguei pra ver. Não vi. Temendo por um passamento de meu pai, mudei para a advocacia. E lá vem ele dizendo pra eu não advogar no Criminal. Seria muito perigoso. E agora? Qual trabalho seria lucrativo, digno, entusiasta e sem nenhum perigo? Até ontem só me vinha uma resposta: o de Papai Noel. Clientes: criancinhas. Função: dar sorrisos amarelos. Jornada de trabalho: uma semana por ano. Mas eis que surge uma nova categoria: os duendes. Eles são muito lembrados na época no Natal e, depois que Xuxa jurou ter visto um, ninguém mais duvidou deles. Na última terça-feira, deu-se, nos EUA, o que nós aqui chamamos de concorrência desleal. Um duende se misturou a crianças numa fila de um shopping e, quando sentou no colo do Papai Noel, em vez de pedir presente, deu-lhe um. De grego: uma caixa cheia de bananas de dinamite. A segurança foi acionada e o duende, preso. Era a desculpa que me faltava para eu dar ao meu pai: não há profissão sem riscos.
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